Categoria: Lamentações

LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS
Introdução
Lamentações é uma coleção de cinco poemas nos quais se chora a destruição da cidade de Jerusalém no ano 586 a.C. O país havia sido arrasado, e o povo havia sido levado prisioneiro. Embora neste livro se fale muito de coisas tristes, não deixa de haver nele uma nota de confiança em Deus e de esperança no futuro. Esses poemas são recitados pelos judeus, com jejum e orações, para lembrarem todos os anos a destruição de Jerusalém.
Esquema do conteúdo
1. As tristezas de Jerusalém (1.1-22)
2. Deus castiga Jerusalém (2.1-22)
3. Castigo, arrependimento e esperança (3.1-66)
4. Jerusalém arrasada (4.1-22)
5. Oração pedindo misericórdia (5.1-22)

  • Lamentações, 5

    DÁ-NOS UM NOVO COMEÇO
    1-22 “Lembra-te, ó Eterno, de tudo que passamos. Observa, nossa terrível condição, a marca triste que deixamos na história. Nossa terra preciosa foi dada aos invasores; nossas casas, a estranhos. Somos órfãos, não há um pai em vista, e nossas mães são como viúvas. Temos de pagar pela própria água. Até a lenha para fazer fogo precisa ser paga. Não somos nada mais que escravos, ameaçados e oprimidos, exaustos e sem descanso. Nós nos vendemos para a Assíria e para o Egito só para ter o que comer. Nossos pais pecaram e já não estão aqui, e estamos pagando pelos erros que eles cometeram. Escravos nos dominam; não dá para escapar das suas garras. Arriscamos a vida em busca de comida no deserto infestado de bandidos. Nossa pele se tornou negra como um forno, ressecada como couro velho por causa da fome. Nossas mulheres foram violentadas nas ruas de Sião; e nossas virgens, nas cidades de Judá. Eles esganaram nossos príncipes, desonraram nossos anciãos. Jovens fortes foram postos para fazer trabalho de mulheres, meninos foram forçados a fazer trabalho de homens. Nas portas da cidade, já não há sábios anciãos. Já não se ouve a música dos jovens. Toda a alegria do nosso coração se foi. Nossas danças se tornaram cantos fúnebres. A coroa de glória caiu da nossa cabeça. Ai! Ai! Quem dera não ter pecado! Por causa disso, estamos doentes do coração. Não conseguimos enxergar por causa das lágrimas. No monte Sião, destruído e arruinado, os chacais perambulam e vagueiam. Contudo, ó Eterno, tu ainda és soberano, e teu trono eterno permanece para sempre. Por que, então, continuas a nos ignorar? Por que nos jogar fora e nos deixas assim? Leva-nos de volta para ti, Senhor! Estamos prontos para voltar. Dá-nos um novo início. A não ser que não tenha mais volta, não nos queiras mais, e a sua fúria não tenha fim.”

  • Lamentações, 4

    ACORDANDO SEM NADA
    1 Ah! O ouro é tratado como sujeira; o ouro mais fino é jogado fora com o lixo, joias inestimáveis estão espalhadas por todo lugar, joias são jogadas na sarjeta.

    2 E o povo de Sião, antes tão estimado, valendo mais que seu peso em ouro, agora é tratado como cerâmica barata, como vasos e potes produzidos em massa.

    3 Até os chacais alimentam seus filhotes, dão a eles o peito para mamar. Mas meu povo se tornou cruel com seus bebês, como a avestruz no deserto.

    4 Os bebês não têm o que beber. A língua gruda no céu da boca. Crianças pequenas pedem pão, mas ninguém dá a elas nem mesmo a casca.

    5 Gente acostumada com a cozinha mais sofisticada vasculha as ruas em busca de que comer. Gente acostumada com roupas de marca vasculha o lixo em busca de que vestir.

    6 A terrível culpa do meu amado povo foi pior que o pecado de Sodoma — A cidade foi destruída num instante, e não havia ninguém por perto para ajudar.

    7 Os esplêndidos e intocáveis nobres, antes, brilhavam de tanta saúde. Os corpos eram fortes e corados, e a barba, como pedra esculpida.

    8 Mas agora estão cobertos de fuligem, irreconhecíveis nas ruas, Com os ossos à vista e a pele ressecada como couro velho.

    9 É melhor ser morto em batalha que morrer de fome. É melhor morrer dos ferimentos da batalha que morrer lentamente de fome.

    10 Mulheres belas e bondosas cozinharam os próprios filhos para comer. Era única opção em toda cidade quando meu amado povo foi devastado.

    11 O Eterno deu vazão a toda a sua ira: não reteve nada. Ele derramou sua ira ardente e pôs fogo em Sião, que a queimou e a reduziu a cinzas.

    12 Os reis da terra mal conseguem acreditar. Governantes mundiais ficaram chocados ao observar velhos inimigos marchando cidade adentro arrogantes, atravessando as portas de Jerusalém.

    13 Por causa dos pecados dos seus profetas e dos males dos seus sacerdotes, que exploravam um povo bom e justo, roubando a vida deles,

    14 Esses profetas e sacerdotes, cegos, tateiam para achar seu caminho, encardidos e manchados de sua vida imunda, Gastos pela sua vida desperdiçada, arrastando os pés de fadiga, vestidos em trapos.

    15 O povo grita para eles: “Saiam daqui, velhos sujos! Saiam daqui, não nos toquem, não nos contaminem!”. Eles precisam sair da cidade, ninguém quer que eles fiquem aqui. Todos saberão, não importa por onde andem, que eles foram expulsos da própria cidade.

    16 O próprio Eterno os espalhou. Ele já não se importa com eles. Não quer mais nada com os sacerdotes nem se preocupa com os anciãos.

    17 Olhamos atentamente, e continuamos olhando, cansamos os olhos de tanto esperar por ajuda. E nada. Montamos postos de observação e procuramos por uma ajuda que nunca apareceu.

    18 Os caçadores nos seguiram e nos acharam. Não era seguro sair às ruas. O nosso fim estava próximo; nossos dias estavam contados. Estávamos condenados!

    19 Eles vieram atrás de nós mais rápido que águias no voo, nos perseguiram nas montanhas e nos emboscaram no deserto.

    20 Nosso rei, nosso sopro de vida, o ungido do Eterno foi apanhado nas armadilhas deles — Ah, Nosso rei! Achamos que viveríamos sempre sob sua proteção.

    21 Celebrem enquanto podem, vocês de Edom! Festejem em Uz! Pois não falta muito para vocês beberem o mesmo cálice. Vocês vão descobrir o que é beber da ira do Eterno, o que é embebedar-se da ira do Eterno e acordar sem nada, totalmente despido.

    22 Sião, é isso. O castigo foi cumprido. Vocês não precisarão passar pelo exílio de novo. Edom, sua hora está chegando: Ele castigará sua vida de maldades e porá à mostra todo seu pecado.

  • Lamentações, 3

    O ETERNO ME TRANCOU NUM QUARTO ESCURO
    1-3 Eu sou o homem que viu desgraça, desgraça resultante do açoite da ira do Eterno. Ele me tomou pela mão e me conduziu à escuridão mais profunda. Sim, ele me golpeou com as costas da mão, muitas e muitas vezes.

    4-6 Ele me transformou num espantalho de pele e osso e, então, quebrou meus ossos. Ele me cercou, me encurralou e derramou a desgraça e a provação. Ele me trancou num quarto escuro, como um cadáver pregado no fundo de um caixão.

    7-9 Ele me trancou para que eu nunca mais saia, algemou minhas mãos, acorrentou meus pés. Mesmo quando grito e suplico por ajuda, ele tranca minhas orações e joga fora a chave. Ele levanta barreiras de pedra e cimento. Estou completamente encurralado!

    10-12 Ele é um leão à espreita, um leão escondido pronto para lançar-se sobre a presa. Ele me derrubou no caminho e me rasgou em pedaços. Quando terminou, não havia sobrado nada de mim. Ele pegou seu arco e duas flechas e me usou como alvo.

    13-15 Ele me feriu no estômago com as flechas da sua aljava. Todos fizeram piada de mim, fizeram de mim objeto das suas risadas. Ele me enfiou comida estragada goela abaixo, embebedou-me com bebida intragável.

    16-18 Ele esmigalhou minha face. Ele me pisou no pó. Eu desisti da vida. Esqueci o que é uma vida boa. Eu disse a mim mesmo: “É isto! Estou acabado! Com o Eterno, a causa é perdida”.

    É BOM ESPERAR A AJUDA DO ETERNO
    19-21 Nunca vou esquecer a desgraça, o gosto das cinzas, o veneno que engoli. Lembro de tudo — ah, e como lembro! — o sentimento de chegar ao fundo do poço. Mas há outra coisa que lembro e, ao lembrar, continuo agarrado à esperança:

    22-24 O amor leal do Eterno não pode ter acabado, Seu amor misericordioso não pode ter secado. Eles são renovados a cada manhã. Como é grande tua fidelidade! Eu me apego ao Eterno (digo e repito). Ele é tudo que me restou.

    25-27 O Eterno se mostra bom para aquele que espera nele, para a mulher que busca com diligência. Boa coisa é esperar em silêncio, esperar a ajuda do Eterno. Boa coisa é, quando jovem, suportar com paciência as provações.

    28-30 Quando a vida está difícil de suportar, entregue-se à solidão. Recolha-se ao silêncio. Curve-se em oração. Não faça perguntas. Espere até que surja a esperança. Não fuja das provações: encare-as. O “pior” nunca é o pior.

    31-33 Por quê? Porque o Senhor nunca vira as costas de vez. Ele voltará atrás! Se ele age com severidade, age, também, com ternura. Seus depósitos de amor leal são imensos. Ele não tem prazer em tornar a vida difícil, em espalhar pedras pelo caminho,

    34-36 Em pisar com dureza os prisioneiros desafortunados, Em recusar justiça às vítimas na corte do Deus Altíssimo, Em adulterar evidências — O Senhor não aprova essas coisas.

    O ETERNO CHAMA À EXISTÊNCIA AS COISAS BOAS E AS COISAS MÁS
    37-39 Quem vocês acham que “fala e, assim, acontece”? O Senhor é quem dá as ordens. Não é O Deus Altíssimo que chama tudo à existência, as coisas boas e as coisas más? E por que alguém que recebeu a dádiva da vida reclamaria quando é castigado pelo pecado?

    40-42 Vamos analisar a forma como vivemos e reorganizar a vida conforme a direção do Eterno. Vamos levantar o coração e as mãos, orando a Deus, que está no céu: “Fomos rebeldes e teimosos, e tu não nos perdoaste.

    43-45 “Perdeste a paciência conosco e não economizaste no castigo. Tu nos perseguiste e nos destruíste sem misericórdia, Tu te escondeste em grossas camadas de nuvens para nossas orações não chegarem a ti. Trataste-nos como a água suja da louça e nos jogaste no quintal das nações.

    46-48 “Nossos inimigos gritam insultos, estão com a boca cheia de escárnio e injúrias. Já fomos ao além e voltamos. Não temos para onde nos voltar, para onde fugir. Rios de lágrimas jorram dos meus olhos diante do desastre do meu amado povo.

    49-51 “As lágrimas jorrarão dos meus olhos, é como poço profundo, que não se acaba. Até que tu, ó Eterno, olhes lá de cima, olhes e vejas minhas lágrimas. Quando vejo o que aconteceu com as moças da cidade, a dor me parte o coração.

    52-54 “Inimigos, sem razão alguma para serem inimigos, me caçaram como a um pássaro. Jogaram-me numa cova e me depenaram a pedradas. Então, vieram as chuvas e encheram a cova. A água passou da minha cabeça. Eu disse: ‘Agora está tudo acabado!’.

    55-57 “Chamei teu nome, ó Eterno, gritei do fundo da cova. Tu ouviste quando gritei: ‘Não feches os ouvidos! Tira-me daqui! Salva-me!’. Então, chegaste perto de mim quando gritei e disseste: ‘Tudo vai acabar bem’.

    58-60 “Tomaste partido a meu favor, ó Eterno, e me trouxeste de volta com vida! Viste o mal que se amontoou sobre mim. Dá-me a oportunidade de me defender no tribunal! Sim, tu sabes das tramas mal-intencionadas, das maquinações deles para me matar.

    61-63 “Tu ouviste, ó Eterno, as conversas depravadas, as intrigas deles pelas minhas costas, para me arruinar. Eles nunca param, esses meus inimigos, de sonhar com maldades, fazem nascer a malícia, dia após dia. Quando se sentam ou se levantam — é só olhar para eles —, zombam de mim com versos vulgares e malfeitos.

    64-66 “Faz que paguem por tudo que fizeram, ó Eterno! Dá a eles a justa recompensa. Quebra o coração miserável deles. Lança maldição sobre os olhos deles. Desperta tua ira e vai atrás deles. Acaba com eles debaixo do teu céu”.

  • Lamentações, 2

    O ETERNO ABANDONOU SEU SANTO TEMPLO
    1 Ah! O Senhor cortou a Filha Sião dos céus, arremessou a gloriosa cidade de Israel para a terra e, na sua ira, tratou seus favoritos como lixo.

    2 O Senhor, sem pensar duas vezes, engoliu Israel de uma só vez. Furioso, esmagou as defesas de Judá, fez picadinho do seu rei e dos seus príncipes.

    3 Com as chamas da sua ira, queimou Israel até o fim, quebrou o braço de Israel e deu as costas quando o inimigo se aproximou, quando veio sobre Jacó como um fogo descontrolado de todas as direções.

    4 Como um inimigo, apontou o arco, desembainhou a espada e matou nossos moços, nosso orgulho e nossa alegria. Sua ira, como fogo, reduziu a cinzas as casas em Sião.

    5 O Senhor se tornou o inimigo. Ele fez de Israel seu jantar. Mastigou e devorou todas as defesas. Ele deixou a Filha de Judá em prantos.

    6 Ele destruiu seu antigo lugar de encontros, entulhou o lugar das reuniões. O Eterno apagou as memórias que Sião tinha dos dias de festa e dos sábados, expulsou furiosamente de sua presença o rei e o sacerdote.

    7 O Eterno abandonou seu altar, deu as costas para seu santo templo e entregou as fortalezas ao inimigo. Quando eles vibraram dentro do templo, parecia que era dia de festa!

    8 O Eterno fez planos de derrubar os muros da Filha Sião. Ele reuniu sua equipe e se pôs a trabalhar na execução dos planos. Demolição total! Até as pedras choraram!

    9 As portas da cidade, com barras de ferro e tudo, desapareceram no entulho: seus reis e príncipes foram para o exílio — não sobrou ninguém para instruir ou liderar; seus profetas são inúteis — não viram nem ouviram nada do Eterno.

    10 Em silêncio, os anciãos da Filha Sião sentam-se no chão. Cobrem a cabeça de pó, vestem-se, em penitência, de pano de saco — as jovens virgens de Jerusalém estão com o rosto coberto de sujeira.

    11 Meus olhos estão cegos pelas lágrimas, estou com o coração na mão. Meu interior está derretido por causa do destino do meu povo. Bebês e crianças estão desmaiando por todo lugar,

    12 chamando pela mãe: “Estou com fome! Estou com sede!”. E, então, desmaiam como soldados moribundos nas ruas, expirando no colo da mãe.

    13 Como poderei entender sua terrível condição, amada Jerusalém? O que posso dizer para dar a você conforto, amada Sião? Quem pode restaurar você? Esse rompimento está além da compreensão.

    14 Seus profetas a cortejaram com conversa fiada. Eles não a confrontaram com seus pecados para você se arrepender. Seus sermões eram apenas palavras de bajulação, pura ilusão.

    15 Atônitos, os que passam não conseguem crer no que veem. Esfregam os olhos, balançam a cabeça diante de Jerusalém: “É esta a cidade chamada “Linda Terra” e “Melhor Lugar para Se Viver?”

    16 Mas agora seus inimigos estão boquiabertos, espantados. Eles batem palmas e pulam de alegria: “Nós os pegamos! Há muito tempo que esperamos por isso! Agora aconteceu!”

    17 O Eterno executou, ponto por ponto, exatamente tudo que planejou. Ele sempre disse que faria isto, e agora o fez: derrubou o lugar. Ele deixou seus inimigos pisarem nela, declarou-os vencedores!

    18 Grite de todo o coração ao Senhor, amada e arrependida Sião. Deixe que as lágrimas corram como um rio, dia e noite, e continuem assim — sem parar. Deixe escorrerem as lágrimas.

    19 Assim que cada vigília da noite começar, levante-se e vá orar. Derrame o coração na presença do Senhor. Levante as mãos bem alto. Suplique pela vida dos seus filhos que estão morrendo de fome nas ruas.

    20 “Olha para nós, ó Eterno. Pensa outra vez. Já trataste alguém dessa forma? Deveriam as mulheres comer os próprios bebês, os filhos que criaram? Deveriam os sacerdotes e profetas ser assassinados no santuário do Senhor?

    21 “Meninos e velhos estão jogados nas sarjetas, meus moços e moças mortos na flor da idade. Irado, tu os mataste a sangue-frio, foram degolados sem misericórdia.

    22 “Tu convidaste homens prontos para matar como amigos para a festa, para que ninguém escapasse no grande dia da ira do Eterno. Os filhos que amei e criei se foram.”

  • Lamentações, 1

    INDIGNO E SEM VALOR
    1 Oh! Como está vazia a cidade que antes fervilhava de gente. Parece uma viúva a que antes era a poderosa das nações; antes, rainha da festa, agora uma simples escrava!

    2 Ela chora tentando ninar a si mesma, e as lágrimas encharcam o travesseiro. Nenhum dos seus amantes apareceu para lhe oferecer o ombro e segurar sua mão. Todos os seus amigos a abandonaram. Só tem inimigos!

    3 Depois de anos de dor e trabalho pesado, Judá foi para o exílio. Acampa-se no meio dos estrangeiros, nunca se sente em casa. Caçada por todos, está presa entre uma rocha e um penhasco.

    4 As estradas de Sião choram, sem peregrinos a caminho das festas. Todas as portas da cidade estão desertas, e seus sacerdotes, desesperados. Suas virgens estão tristes. Como é amargo seu destino!

    5 Seus inimigos se tornaram seus senhores. Seus adversários estão felizes da vida porque o Eterno humilhou Judá, castigando suas repetidas rebeliões. Seus filhos, prisioneiros dos inimigos, arrastam-se para o exílio.

    6 Toda a beleza se esvaiu da face da Filha Sião. Seus príncipes parecem corços famintos, exaustos de fugir dos caçadores.

    7 Jerusalém lembra o dia em que perdeu tudo, quando seu povo caiu nas mãos dos inimigos, sem que ninguém ajudasse. Os inimigos apenas olhavam e riam do seu silêncio impotente.

    8 Jerusalém, que pecou mais que o mundo inteiro, está impura. Seus antigos admiradores agora enxergam a verdade e a desprezam. Nessa condição de miséria, ela geme e vira o rosto.

    9 Ela levou a vida na brincadeira, sem pensar no amanhã, e agora sucumbiu terrivelmente, e ninguém segura sua mão: “Olha para a minha dor, ó Eterno! E como o inimigo zomba, na sua crueldade!”

    10 O inimigo está ocupado em tomar tudo que ela tem de valor. Ela observa enquanto os pagãos invadem o santuário, exatamente aqueles a quem deste ordens: Proibida a entrada. Assembleia restrita.

    11 Ela gemeu, desesperada por comida, desesperada para sobreviver. Trocou suas coisas prediletas por um bocado de comida: “Ó Eterno, olha para mim! Indigno, sem valor!

    12 “E vocês que passam, olhem para mim! Alguma vez já viram algo assim? Já viram dor como a minha? Viram o que ele me fez, o que o Eterno me fez na sua ira?

    13 “Ele me feriu com raios, me amarrou da cabeça aos pés, e montou armadilhas à minha volta, e eu não pude me mexer. Ele me tirou tudo — me deixou doente e cansada de viver.

    14 “Ele teceu meus pecados num manto e me arreou com o jugo do cativeiro. Sou ferida por cruéis capatazes.

    15 “O Senhor amontoou meus melhores soldados e chamou matadores para quebrar aqueles jovens pescoços. O Senhor esmagou e pisoteou a bela virgem Judá.

    16 “Por tudo isso, eu choro rios de lágrimas, e não há uma alma à minha volta que se preocupe comigo. Meus filhos estão destruídos, meu inimigo se apossou de tudo”.

    17 Sião gritou por ajuda, mas ninguém ajudou. O Eterno ordenou aos inimigos de Jacó que a cercassem, e agora ninguém quer saber de Jerusalém.

    18 “O Eterno tem a justiça do seu lado. Fui eu que pratiquei o mal. Ouçam todos! Vejam pelo que estou passando! Minhas belas moças, meus elegantes moços, todos levados para o exílio!

    19 “Pedi socorro aos meus amigos, e eles me traíram. Meus sacerdotes e meus líderes só se preocuparam consigo mesmos, tentando salvar a própria pele, mas nem isso conseguem.

    20 “Ó Eterno, vê a confusão dentro de mim! Estou muito angustiada; meu coração está em pedaços depois de tanta rebelião. Há massacres nas ruas, fome nas casas.

    21 “Ah, ouve meu pedido de socorro! Ninguém ouve, ninguém se importa. Quando meus inimigos souberam das provações que me impuseste, eles vibraram! Que chegue o dia do julgamento deles! Faz cair sobre eles o que eu recebi!

    22 “Observa os maus caminhos deles e dê a eles a devida retribuição! Dá a eles o mesmo que me deste pelos meus pecados. Gemendo de dor, no corpo e na alma, recebi tudo que podia suportar!”